Por se multiplicar a iniquidade...
- Giovani Ferreira Zainotte
- 8 de nov. de 2016
- 4 min de leitura

No Ministerial da 1ª Região Eclesiástica ouvimos um impactante sermão do Pr. Neil Barreto sobre 1Coríntios 13, sobre o amor que edificou todos nós. Desde ai, à luz do que vivemos no momento no Brasil e no Mundo, tomando uma linha diferenciada do que ouvimos naquele sermão, resolvi meditar com a Igreja o que faz o amor se esfriar, tendo como pano de fundo uma reflexão exegética, na verdade um estudo bíblico que nos tire da nossa zona de conforto, e nos ajude a crescer no Discipulado e na Missão.
Por que Jesus afirmou isto? Seu amor pelos/as irmãos/ãs, pelos seres humanos está esfriando? Seria a pergunta que precisa ser feita, ou seja, está diminuindo nossa sensibilidade?
O quadro literário onde se encontra este versículo é o chamado livro da paixão e morte de Jesus. Começa no capítulo 21 com a entrada de Jesus em Jerusalém aclamado como Filho de Davi, título messiânico e de nobreza, e contraditoriamente como Profeta. “E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! (Mt 21.9), “E as multidões clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia! (Mt 21.11). Contraditoriamente porque Rei e Profeta numa visão bíblica se opõem. Um reina e governa, e o outro denúncia e anuncia.
Esta unidade do Evangelho de Mateus vai do capítulo 21 até a ressurreição no capitulo 28. Ali, há constante confronto entre Jesus e a classe religiosa de Israel, saduceus e todos os religiosos ligados ao ofício do Culto e do Templo. E paralelamente a isto, com os fariseus ligados ao ensino e vigilância do cumprimento estrito da Lei-Torah. A sequência é esclarecedora. Mencionarei parte: purificação do Templo-religião e mercado religioso (Mt 21.12-13). Mais adiante, as curas no templo e a aclamação de Jesus incomodam mais uma vez.
Nenhuma sensibilidade pelos enfermos (Mt 21.14-17 ); no capitulo 22.15-22 vemos entrar em cena os fariseus e herodianos com intento de “...Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam em alguma palavra. E enviaram-lhe discípulos, juntamente com os herodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não? Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ouvindo isto, se admiraram e, deixando-o, foram-se...” (Mt. 22.15-22) E assim, se desenrolam as narrativas e as parábolas que Jesus profere. Sim, neste clima de confronto, e o povo e as ovelhas à margem, sem o cuidado destes “pastores”. Mas por outro lado, as ovelhas estão sendo sempre o centro da atenção de Jesus. Vejam o que diz Mateus: “Ouvindo isto, as multidões se maravilhavam da sua doutrina.” (Mt 22.33).
Em meio a estes confrontos sobre doutrina, ritual e autoridade, surge a questão chave que nos ajuda entender a fala de Jesus. Vejamos:
“Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, reuniram-se em conselho. E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.” (Mt 22.34-40)
Aqui é a chave, porque Jesus abandona a discussão da ortodoxia (reta doutrina dos religiosos) em favor do que é fundamental, o que distingue um filho de Deus dos filhos do Diabo, O Amor!!! O Diabo é capaz de entender todas as Escrituras e Doutrinas, citá-las, mas é incapaz de Amar. O Diabo incita o ódio, a contenda, a falta de perdão. Quer tomar o lugar de Deus como Juiz, a semelhança do que tentavam fazer os fariseus e saduceus. E que seguem hoje fazendo isso, aqueles que por conta de oprimir e julgar destroem a vida de irmãos e irmãs com juízo maldoso e premeditado.
Jesus no texto chama atenção para o que é central na natureza do cristianismo, do que é espiritual, do que agrada a Deus, o amor, a graça arrebatadora e amorosa de Deus, que a tudo restaura, ama e reconcilia.
Entramos pelo caminho da iniquidade que esfria o amor quando nossas ideias são mais fortes do que nosso amor aos irmãos/ãs, quando julgamos por causa de um fato ou uma prática que discordamos. Queremos ser Deus, nos glorificar como donos da verdade, e jogar no inferno os que discordam de nós. A iniquidade aumenta e o amor diminui.
Esta palavra de Jesus é posta dentro do Sermão Escatológico, o anuncio do tempo do fim do dia do Senhor. E este juízo alcança a todos nós. Ninguém escapa deste juízo, pois em algum momento em nosso meio, incorremos neste pecado dos religiosos nos tempos de Jesus. Mas é importante nos aprofundarmos mais para que, como povo chamado Metodista, "...cresçamos à estatura do ser humano perfeito em Cristo."
Bispo Paulo Lockmann




























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